Utilização de resíduos orgânicos de frutas como alternativa prebiótica na elaboração de alimentos funcionais e simbiótico: revisão integrativa
Abstract
Introdução: O Brasil é um dos maiores produtores mundiais de frutas e, ao mesmo tempo, um dos países que
mais desperdiça alimentos. Nos últimos anos — especialmente após a pandemia de COVID-19 — observou-se
um aumento significativo da insegurança alimentar, o que reforça a necessidade de buscar alternativas viáveis
de reaproveitamento alimentar como prática sustentável, contribuindo para a redução do descarte de resíduos
orgânicos no meio ambiente. Objetivo: o presente estudo teve como objetivo geral pesquisar na literatura
existente, estudos que vinculassem os benefícios prebióticos dos resíduos orgânicos de frutas, como também a
vinculação com a caracterização de sorvetes simbióticos. Metodologia: A pesquisa consistiu em uma revisão
integrativa, desenvolvida a partir da análise de estudos disponíveis em bases de dados científicas. Foram
selecionados artigos cuja temática envolvia intervenções dietéticas com a utilização de alimentos funcionais
e/ou simbióticos, bem como o aproveitamento de resíduos orgânicos de frutas como fontes de prebióticos
e possíveis alternativas para minimizar o impacto ambiental. Resultados: Diversos autores desenvolveram
formulações de alimentos funcionais utilizando farinhas obtidas de resíduos orgânicos, com o objetivo de
enriquecer a dieta e avaliar suas características sensoriais e microbiológicas. Em formulações nas quais foi
adicionada inulina, observou-se que o sorvete apresentou maior dureza e retardamento no derretimento. Outros
estudos demonstraram que o consumo adequado de probióticos contribuiu para a melhora da obstipação em
diferentes grupos populacionais. Discussão: O microbioma intestinal pode estar envolvido em respostas
fisiológicas desadaptativas associadas a estados de doença, especialmente no diabetes mellitus tipo 2, que
apresenta maior prevalência de disbiose microbiana intestinal — condição que causa danos à mucosa intestinal.
Conclusão: Uma alimentação saudável e rica em fibras é essencial para a manutenção de um microbioma
intestinal equilibrado, prevenindo o desenvolvimento de diversas patologias. A utilização de farinhas obtidas
de resíduos orgânicos mostrou-se uma alternativa eficaz para a elaboração de novos produtos alimentícios,
além de representar uma excelente fonte de prebióticos que servem de substrato para a microbiota intestinal.
Palavras-chave: Simbiótico; Probiótico; Antioxidante; Resíduos de Alimentos; Sorvete
References
AGUS, A.; CLÉMENT, K.; SOKOL, H. Gut microbiota-derived metabolites as central regulators in metabolic disorders. Gut, v. 70, p. 1174–1182, 2021. DOI: 10.1136/gutjnl-2020-323071.
AJILA, C. M.; RAO, U. J. S. P. Mango peel dietary fiber: Composition and associated bound phenolics. Journal of Functional Foods, v. 5, n. 1, p. 444–450, 2013. DOI: 10.1016/j.jff.2012.11.017.
BARREIRO, N.; CHAVES, M. A.; GARCIA, C. C. Aplicação tecnológica da casca de abacaxi desidratada em sorvete. In: Princípios Fundamentais das Ciências. Ponta Grossa: Atena Editora, 2018. p. 205–219.
BIRKELAND, E. et al. Prebiotic effect of inulin-type fructans on fecal microbiota and short-chain fatty acids in type 2 diabetes: A randomized controlled trial. European Journal of Nutrition, v. 59, n. 7, p. 3325–3338, 2020. DOI: 10.1007/s00394-020-02282-5.
BOFF, C. C. E. et al. Desenvolvimento de sorvete de chocolate utilizando fibra de casca de laranja como substituto de gordura. Ciência Rural, v. 43, n. 10, p. 1892–1897, 2013. DOI: 10.1590/S0103-84782013001000026.
CAVAGNARI, M. A. V. et al. Ação de prebióticos e simbióticos na obstipação intestinal de indivíduos com paralisia cerebral. Nutrición Clínica y Dietética Hospitalaria, v. 39, n. 1, p. 46–55, 2019. DOI: 10.12873/391cavagnari.
CZAJKOWSKA, A. et al. Gut microbiota and its metabolic potential. European Review for Medical and Pharmacological Sciences, v. 24, p. 12971–12977, 2020. DOI: 10.26355/eurrev_202012_24201.
COQUEIRO, A. Y.; PEREIRA, J. R. R.; GALANTE, F. Farinha da casca de Passiflora edulis f. flavicarpa (maracujá-amarelo): potencial terapêutico e efeitos adversos. Revista Brasileira de Plantas Medicinais, v. 18, p. 563–569, 2016. DOI: 10.1590/1983-084X/15_187.
COSTA, M. G. M. Desenvolvimento de sorvete simbiótico de açaí (Euterpe oleracea) com Lactobacillus rhamnosus GG e resistência do probiótico em digestão gastrintestinal in vitro. 2014. Tese (Doutorado) – Universidade de São Paulo, 2014.
DELIBERDOR, L. R. et al. Desperdício de alimentos: evidências de um refeitório universitário no Brasil. Revista de Administração de Empresas, v. 61, 2021. DOI: 10.1590/S0034-759020210507x.
ERCOLE, F. F.; MELO, L. S.; ALCOFORADO, C. L. G. C. Revisão integrativa versus revisão sistemática. Revista Mineira de Enfermagem, v. 18, n. 1, p. 9–12, 2014. DOI: 10.5935/1415-2762.20140001.
FRANCESCHI, F. et al. Microbes and Alzheimer’s disease: lessons from H. pylori and gut microbiota. European Review for Medical and Pharmacological Sciences, v. 23, n. 1, p. 426–430, 2019. DOI: 10.26355/eurrev_201901_16791.
GADELHA, C. J. M. U.; BEZERRA, A. N. Efeitos dos probióticos no perfil lipídico: revisão sistemática. Jornal Vascular Brasileiro, 2019. DOI: 10.1590/1677-5449.180124.
GARCIA, R. O. F.; SILVA, M. L. L. S. Efeito do uso de probióticos e simbióticos no controle metabólico em diabetes tipo 2 e pré-diabetes: revisão sistemática. Revista Baiana de Saúde Pública, v. 46, p. 56–68, 2022. DOI: 10.22278/2318-2660.2022.v46.nSupl_1.a3784.
FAO; Rede PENSSAN. Insegurança Alimentar e Covid-19 no Brasil. FAO/Rede PENSSAN, 2021. ISBN 9786587504193.
JUNIOR, A. S. B. et al. Parâmetros físico-químicos como descritores de qualidade do abacaxi Pérola. Revista Brasileira de Tecnologia Agroindustrial, v. 16, n. 1, p. 3788–3814, 2022. DOI: 10.3895/rbta.v16n1.13180.
KUMAR, P. S. et al. Structural and physicochemical properties of green banana flour. LWT – Food Science and Technology, v. 116, 2019. DOI: 10.1016/j.lwt.2019.108524.
LACERDA, S. Sorvetes funcionais probióticos: uma sobremesa que faz bem ao organismo. Agron Food Academy, 2021.
LEMOS, J. A. et al. The biology of Streptococcus mutans. Microbiology Spectrum, v. 7, n. 1, 2018. DOI: 10.1128/microbiolspec.GPP3-0051-2018.
LIBER, A.; SZAJEWSKA, H. Effect of oligofructose supplementation on body weight in overweight and obese children. British Journal of Nutrition, v. 112, n. 12, p. 2068–2074, 2014. DOI: 10.1017/S0007114514003110.
LIMA, A. R. N. et al. Caracterização físico-química e microbiológica de biscoitos com farinha de resíduos de frutas. Research, Society and Development, v. 8, n. 11, p. 1–18, 2019. DOI: 10.33448/rsd-v8i11.1452.
LOERA-RODRÍGUEZ, L. H.; ORTIZ, G. G.; RIVERO-MORAGREGA, P. Effect of symbiotic supplementation in cervical cancer patients. Nutrición Hospitalaria, v. 35, n. 6, p. 1394–1400, 2018. DOI: 10.20960/nh.1762.
MARÇAL, S.; PINTADO, M. Mango peel as a food ingredient: nutritional value and applications. Trends in Food Science and Technology, v. 114, p. 472–489, 2021. DOI: 10.1016/j.tifs.2021.06.012.
MELLO, F. R. et al. Tecnologia de alimentos para gastronomia. Grupo A, 2018. E-book. ISBN 9788595023291.
NAGARAJAPPA, R.; DARYANI, H.; SHARDA, A. J. et al. Effect of chocobar ice cream containing Bifidobacterium on S. mutans. Oral Health & Preventive Dentistry, v. 13, n. 3, p. 213–218, 2015. DOI: 10.3290/j.ohpd.a32673.
PASSOS, M. do C. F.; MORAES-FILHO, J. P. Intestinal microbiota in digestive diseases. Arquivos de Gastroenterologia, v. 54, n. 3, p. 255–262, 2017. DOI: 10.1590/S0004-2803.201700000-31.
PEREIRA, L. F. A.; FIRMO, W. C. A.; COUTINHO, D. F. Reaproveitamento de resíduos da indústria alimentícia: frutas. Research, Society and Development, v. 11, n. 12, 2022. DOI: 10.33448/rsd-v11i12.34089.
PEREIRA, N.; FRANCESCHINI, S.; PRIORE, S. Qualidade dos alimentos segundo o sistema de produção. Saúde e Sociedade, v. 29, 2020. DOI: 10.1590/S0104-12902020200031.
PERES, J. F.; BOLINI, H. M. A. Sorvetes de chocolate simbiótico de baixa caloria. Brazilian Journal of Food Technology, v. 23, p. e2019108, 2020. DOI: 10.1590/1981-6723.10819.
PITOCCO, D. et al. Gut microbiota and obesity/diabetes. European Review for Medical and Pharmacological Sciences, v. 24, n. 3, p. 1548–1562, 2020. DOI: 10.26355/eurrev_202002_20213.
PREVIATO, M. et al. Efeito da ingestão de simbiótico na função intestinal de idosos. Revista Kairós Gerontologia, v. 19, p. 157–173, 2016. DOI: 10.23925/2176-901X.2016v19iEspecial22p157-173.
QUINONES, P. M.; BASS, G. A. The interface of the omentum and microbiome in sepsis. Surgical Infections, v. 24, p. 232–237, 2023. DOI: 10.1089/sur.2022.421.
REYNOLDS, T.; NOORBAKHSH, S.; SMITH, R. Microbiome contributions to health. Surgical Infections, v. 24, p. 213–219, 2023. DOI: 10.1089/sur.2023.002.
SANTOS, P. P. A. D. et al. Sorvete funcional proteico com ora-pro-nóbis e inulina. Brazilian Journal of Food Technology, v. 25, p. e2020129, 2022. DOI: 10.1590/1981-6723.12920.
SERGEEV, I. N. et al. Effects of synbiotic supplement on obesity. Nutrients, v. 12, n. 1, 222, 2020. DOI: 10.3390/nu12010222.
SOUZA, C. S. C. et al. Importância da microbiota intestinal na obesidade. Research, Society and Development, v. 10, n. 6, 2021. DOI: 10.33448/rsd-v10i6.16086.
TARIFA, M. C. et al. Symbiotic pectin microparticles and L. paracasei survival. Revista Argentina de Microbiología, v. 54, n. 1, p. 48–52, 2022. DOI: 10.1016/j.ram.2021.03.001.
TORREZAN, R. Tecnologia de alimentos: qualidade. EMBRAPA Agroindústria de Alimentos, 2021.
VALLE, M. et al. Immune status, well-being and microbiota in military personnel supplemented with symbiotic ice cream. British Journal of Nutrition, v. 126, n. 12, p. 1794–1808, 2021. DOI: 10.1017/S0007114521000568.
VISUTHRANUKUL, C. et al. Inulin supplementation effects in obese children. Scientific Reports, v. 12, p. 13014, 2022. DOI: 10.1038/s41598-022-17220-0.


